BLOG

Polícia Militar

Afirma-se que a partir da promulgação da Constituição de 1988 passamos a respirar ares plenamente democráticos.

Ouso discordar. É bem verdade que no período subsequente, até pelo menos o golpe de 2016, o nosso regime foi o mais amplamente democrático da História.

Amplo, contudo, não é sinônimo de pleno. Nosso sistema político é manchado desde sempre por um pendor autoritário que impregna todos os estamentos brasileiros que usam farda.

Uma democracia, mesmo ampla, jamais será plena enquanto generais entenderem que podem interferir no processo político, como ainda ocorre no Brasil. Jamais tivemos força social para impor aos integrantes das Forças Armadas o respeito aos limites constitucionais de suas funções. Temos convivido, inclusive recentemente, com a perene e distorcida noção autoconferida por elas, de que podem tutelar a sociedade, tal qual um poder moderador inexistente na legislação.

Por outro lado, nenhuma democracia será plena enquanto, no seu seio houver profissionais que, em nome do Estado, se julgam acima da lei, e agem diariamente à sua margem, certos de total impunidade.

Pois é isso o que ocorre com a questão da Segurança Pública. Ela não foi democratizada em 1988. Ao contrário. Adotou integral e acriticamente o modelo autoritário da ditadura.

Graças a isso hoje não é novidade para ninguém que a Polícia Militar brasileira é a polícia mais letal do mundo, sem que as instituições esbocem a menor reação para alterar esse quadro. Aliás, agem na contramão disso: são cúmplices ativas na perpetuação dele.

Nossa polícia é a que mais mata, mas é também a que mais morre. Acredita piamente nas perversas e equivocadas ideias de que a luta pela segurança pública é uma guerra entre “mocinhos” e “bandidos”, e de que “justiça” é sinônimo de “vingança”.

Todo o modelo policial brasileiro é um monstrengo anacrônico, ineficaz e até contraproducente. Mas, nele, as ilegalidades cometidas pelas polícias militares se destacam com ampla vantagem em relação às demais.

Ano passado, no podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend”, conversamos com Martel Alexandre del Colle, aspirante a oficial da PM do Paraná formado na Academia Policial Militar do Guatupê. Exercendo postos de comando de tropa, percebeu, na prática, muitos desvios que contradiziam a ideia que tinha sobre o trabalho policial.

Polícia Militar

Íntegro, sério e honesto, levou suas inquietações a seus superiores, sem resultado. Então, no intuito de contribuir para o aperfeiçoamento da instituição e o benefício da sociedade, passou a estudar o tema e publicar suas conclusões. Afinal, é essa sociedade que institui e arma a polícia. Então, ela tem o direito de conhecer os mecanismos do seu funcionamento, os quais lhe são sistematicamente sonegados.

Assim, Martel, passou a constituir um corpo estranho dentro do organismo sólida e nocivamente corporativo. Violou a criminosa lei do silêncio que acumplicia todos, oficiais e praças, num lobby poderosíssimo para preservar um estado de coisas que todos os demais setores sociais sabem ser lastimável.

Então, por meio da criação de todos os tipos de artifícios, a PM deu um jeito de excluí-lo. Aos 29 anos de idade, Martel Alexandre del Colle foi aposentado compulsoriamente.

Ora, o podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend” não nasceu para esconder problemas. Ao contrário, veio para incomodar, para suscitar o debate. Mostrar o outro lado, aquele que os poderosos tentam esconder, porque justamente mexe com seu poder. E, enquanto esteve no ar, acho eu, cumpriu galhardamente esse objetivo.

Você quer conhecer as distorções que levam as Polícias Militares brasileiras a serem o que são, narradas por quem as viu e as viveu pelo lado de dentro? ASSISTA AQUI ao episódio com Martel Alexandre del Colle.